segunda-feira, novembro 8

 

um punhado de amor

pra mim, ir ao teatro não é só chegar-sentar-trêssinais-silêncio-assiste-aplaude-vaiembora.
é tudo muito calculado, admirado, respirado, sentido.
escolher sempre o melhor lugar, centralizado, nem muito longe nem muito no gargarejo.
ouvir o murmurinho da platéia se esvair ao longo dos três sinais.
esperar o black-out acabar pra ver que surpresa que tem lá no palco.
olhar com atenção a cada detalhe. do figurino, do cenário, da luz, das atuações.
rir comedidamente pra não perder nem um segundo de nada que acontece lá.
se incomodar com a ignorância de quem ri na hora errada.
chorar com a beleza de alguma atuação, ou de alguma construção, expressão, figurino, mesmo que sejam feitos para fazer rir.
estalar os dedos quando a cena está sendo brilhante.
me apaixonar por algum ator. isso sempre acontece! penso nele com vigor por uns 3 dias, depois passa.
deve ser como, nos anos 50, ter 15 anos e ir ao cinema pela primeira vez. impossível não se apaixonar pelo james dean.
e, por fim, explodir em aplausos. se foi bom, de pé; com os braços lá em cima, gritando bravo!. se foi ruim, de pé; por educação.
sem esquecer dos comentários no caminho de volta.
analisar tudo. reviver tudo de novo.
é mesmo uma paixão não correspondida. eu renego, finjo que não quero, que não é comigo, que nem sei do que se trata.
mas não tem jeito... é sentir aquele cheiro de mofo das cortinas e cair de amores.

*

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